O setor enfrentava forte pressão

Empresários cearenses renegociaram diretamente com importadores norte-americanos para viabilizar o embarque de 50 contêineres de mel destinados aos Estados Unidos no segundo semestre deste ano, evitando grandes prejuízos com o tarifaço imposto sobre as exportações brasileiras, em vigor desde o último dia 6 de agosto.
O setor enfrentava forte pressão, sobretudo por exportar 95% de sua produção para os EUA, e chegou a registrar, em julho, o bloqueio de cargas no Porto do Pecém, enquanto importadores ainda aguardavam definições sobre a implementação da medida.
Joventino Neto, presidente da Federação dos Apicultores do Ceará (Fecap), explica que a iniciativa para manter as exportações exigiu a renegociação de contratos, com redução das margens de lucro tanto para os vendedores quanto para os compradores.
De acordo com ele, atualmente, os importadores compram o mel cearense por cerca de R$ 14 o quilo, valor inferior aos R$ 16 pagos anteriormente. No entanto, revendem o produto no exterior por R$ 65 a R$ 70 o quilo, atingindo uma margem de lucro superior a 300%.
Por isso, afirma, aceitaram dividir os prejuízos do tarifaço com os produtores cearenses para minimizar os impactos para ambos.
“Como eles [os EUA] têm uma margem de lucro muito grande, dividiram o prejuízo, porque as grandes empresas já possuem clientes certos, contratos de fidelidade e logística. Eles se prepararam para exportar cerca de 300 toneladas mensais ao longo do ano”, disse, em entrevista ao Diário do Nordeste.
Os acordos na cadeia produtiva do mel acontecem independentemente das medidas anunciadas pelo Governo do Ceará, como a compra de alimentos por supermercados, e das ações Governo Federal, cujos anúncios foram feitos nesta quarta-feira (13).
Pequenos produtores serão os mais impactados pela redução do lucro
A redução do lucro, contudo, terá impacto na cadeia produtiva do mel local, afetando diretamente os apicultores de pequeno e médio porte do Ceará, como frisa Joventino Neto.
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Segundo ele, como a maioria dos 70 mil produtores cearenses não é associada a uma cooperativa, os lucros devem ser ainda mais reduzidos em virtude da renegociação entre exportadores e importadores.
“Estou querendo abrir uma cooperativa aqui no Ceará para podermos exportar igual à Casa Ápis (em Picos, no Piauí), e a forma que eles encontraram foi dividir o prejuízo. Quando chega lá, eles fazem um acordo verbal e dividem os prejuízos”, diz.
“Vai baixar em mais ou menos à metade o lucro. Isso, na verdade, vai para as costas dos pequenos apicultores, porque os atravessadores sempre ganham mais”, completa.
Estados Unidos consomem mais de 90% do mel cearense exportado
O Ceará exportou para os Estados Unidos 1,55 mil tonelada de mel de janeiro a julho deste ano, antes de o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump entrar em vigor. Os dados são do Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Ainda conforme esses dados, esse número representa 95% das exportações cearenses de mel de abelha em 2025. Foram US$ 5,3 milhões (R$ 28,6 milhões na conversão atual) comprados pelos EUA.
Além dos Estados Unidos, o mel cearense também terá como foco, neste ano, a Europa. Em 2025, Itália e Reino Unido compraram o produto do Ceará, mesmo que em quantidade muito menor.
O resultado demonstra que o mel cearense ganhou o mercado norte-americano, uma vez que o consumo no Brasil ainda é baixo, na comparação com Estados Unidos e Europa.
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