Essa é a primeira queda de custo do produto em 16 meses

As tarifas de 50% impostas por Donald Trump aos produtos brasileiros começaram a produzir impactos sobre os preços internamente antes mesmo de serem aplicadas. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em Fortaleza, o café teve queda de 2,25% em julho na comparação com junho.
De acordo com o Dieese, o preço de 300 gramas de café caiu de R$ 22,24 em junho para R$ 21,74 em julho. No documento, o departamento avaliou que “os preços domésticos acompanharam as oscilações da commodity nas Bolsas de Nova York e Londres, diante da tarifação de 50% nas importações norte-americanas, o que gerou especulações quanto ao possível escoamento da safra brasileira”.
Resumidamente, a nova safra elevou a oferta de café e pressionou os preços para baixo, enquanto o tarifaço dos EUA intensificou a especulação, acentuando ainda mais a queda das cotações.
“Em julho, as especulações sobre o preço do café estavam ambíguas, visto que o preço da commodity no mercado internacional permanecia em queda, apesar da ameaça tarifária. Porém, a taxa imposta em abril teve um impacto maior nessa queda do mês de julho do que a sobretaxa de agosto”, explica o técnico do Observatório da Agricultura Familiar do Dieese, Arianderso Melo.
Além de Fortaleza, outras 20 cidades brasileiras pesquisadas para a composição da cesta básica tiveram queda nos preços do café em julho de 2025, sendo as retrações mais significativas registradas em Belo Horizonte (-8,17%) e Teresina (-3,99%).
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Primeira queda em 16 meses
O indicador de inflação da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) também já havia indicado queda nos preços do café em pó pela primeira vez em 16 meses. Entre 16 de junho e 15 de julho, houve retração de 0,18% no País.
Em Fortaleza, o preço do café dobrou no último ano, em meio ao crescimento da demanda internacional, no cenário pré-tarifaço. A valorização do dólar incentivou as exportações, reduzindo a oferta do produto no mercado interno, o que contribuiu para o encarecimento do produto.
Agora, o caminho deve ser o inverso. O início da colheita do café, que ocorre nos meses de maio e junho, elevou a oferta do produto, afirma Arianderso Melo, economista do Dieese.
“Aliado a isso, temos o tarifaço, com potencial para intensificar a queda no preço do café ao longo dos próximos meses. Essa tarifa pode dificultar a exportação do grão para o mercado norte-americano e aumentar a disponibilidade no mercado interno”.
Safra do café
O economista Ricardo Coimbra contextualiza que a safra do grão já vinha reduzindo a pressão sobre os preços do café e que ela já começa a aparecer para o consumidor final. “Os comerciantes já estão diminuindo os preços daquilo que eles têm em estoque, fazendo promoções”.
“Com essa certa dificuldade para exportação para os EUA em decorrência da tarifa, o envio de produtos deve ser reduzidos, não sabemos quanto. Isso deve gerar reflexos de diminuição de preços no mercado interno”, avalia Coimbra.
Apesar da tendência, ainda é preciso aguardar os desdobramentos do tarifaço, de acordo com ele. “Se os estoques continuarem elevados no mercado interno com o fim da safra, o preço pode continuar num patamar mais baixo, mas precisamos ir acompanhando esses movimentos. Também precisamos acompanhar se haverá a saída do café nas próximas negociações relacionadas à tarifação”, diz Coimbra.
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