País asiático, localizado entre a Índia e o Tibete, ganhou destaque internacional pelas cenas chocantes de violência na pior revolta popular em décadas
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Desde que estourou, a onda de protestos no Nepal surpreendeu o mundo. Os eventos já causaram a morte de ao menos 30 pessoas e deixaram mais de mil feridos, segundo dados do Ministério da Saúde do pequeno país asiático.
A revolta popular teve como estopim a decisão do governo nepalês de bloquear, no último dia 4 de setembro, cerca de 26 redes sociais, incluindo WhatsApp, Facebook, Instagram e TikTok.
Mas a frustração da população vinha de muito antes, motivada pela ostentação de líderes políticos diante de uma sociedade cada vez mais pobre e uma economia frágil — fatores que levaram o Nepal ao caos em poucos dias.

Na capital, Katmandu, edifícios foram incendiados, incluindo o da Suprema Corte e o do Parlamento. A revolta resultou na derrubada do primeiro-ministro do país, Khadga Prasad Sharma Oli.
Movidos pelo forte sentimento de descontentamento, jovens nascidos entre 1995 e 2010, a chamada “Geração Z”, tomaram as ruas e tiveram choques violentos com as forças de segurança.
O governo recuou da decisão de bloquear as redes sociais e decretou toque de recolher. No entanto, a desordem já estava instalada, pois a população ignorou o recuo.
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Entenda os protestos no Nepal em 5 pontos:
1. Corrupção, desigualdade social e economia fraca
O Nepal é um país himalaio de 30 milhões de pessoas que, há 17 anos, passou por uma turbulenta transição de governo, deixando de ser uma monarquia para se tornar uma república após mais de uma década de guerra civil.
Por conta disso, a democracia no Nepal ainda é considerada muito frágil. Atualmente, o país é governado pelo presidente Ram Chandra Poudel, de centro-esquerda. Já Khadga Prasad Sharma Oli, primeiro-ministro que renunciou após a escalada dos protestos, era líder do Partido Comunista.

Segundo a ONU, o Nepal está entre as 44 nações menos desenvolvidas do mundo. Parte da população sente frustração com a falta de oportunidades e a corrupção no governo.
Dados do Banco Mundial mostram que os 10% mais ricos do país ganham três vezes mais do que os 40% mais pobres. Entre os jovens de 15 a 24 anos, o desemprego chega a 22%.
O país depende fortemente do dinheiro enviado por nepaleses que vivem no exterior: mais de um terço (33,1%) do PIB vem de remessas pessoais, número que cresce continuamente há três décadas.
2. Força da “Geração Z” e os chamados “Nepo Kids”
A insatisfação com a economia e a falta de oportunidades deu origem ao levante, liderado por jovens nascidos entre 1995 e 2010.
Gaurav Nepune, um dos líderes dos protestos, afirmou que uma campanha online começou há três meses, organizada por jovens para expor o contraste entre a vida luxuosa dos políticos e a realidade da população comum.

Esse movimento cresceu em torno de críticas aos chamados “Nepo Kids”, filhos de políticos que exibem estilo de vida luxuoso nas redes sociais. A hashtag #NepoKids viralizou, reunindo fotos e vídeos que escancaram o nepotismo e o privilégio da elite política, em contraste com a dura realidade de jovens de famílias pobres, muitos dos quais precisam deixar o país para sustentar os parentes.
Somados aos escândalos de corrupção e à impunidade, esses elementos alimentaram ainda mais a revolta.
3. Bloqueio das redes sociais
No dia 4 de setembro, o governo nepalês bloqueou as redes sociais alegando disseminação de fake news e falta de cooperação das big techs com a Justiça. A decisão afetou diretamente a vida cotidiana da população.
O bloqueio fez, por exemplo, com que milhares de famílias perdessem contato com jovens que trabalham no exterior e enviam dinheiro para quem ficou no Nepal.
Entre as plataformas bloqueadas estavam Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube e X. A medida foi amplamente criticada por grupos de direitos humanos, que a interpretaram como tentativa de silenciar o movimento anticorrupção crescente nas redes.

Antes do recuo, o governo afirmava que as novas regras eram necessárias para conter notícias falsas e discurso de ódio, e ameaçou banir empresas de tecnologia que não se registrassem junto aos órgãos públicos.
Mesmo assim, os jovens encontraram meios alternativos de comunicação em redes não bloqueadas e, em poucos dias, as manifestações explodiram em violência.
4. Protestos violentos
Os protestos se intensificaram nesta semana, com incêndios e confrontos na capital Katmandu, incluindo ataques ao complexo do Parlamento.
Civis foram flagrados portando rifles nas ruas, enquanto casas de autoridades foram atacadas e incendiadas. A residência do então premiê Khadga Prasad Sharma Oli foi alvo, assim como a do ex-primeiro-ministro, Jhala Nath Khanal, cuja esposa morreu em decorrência de queimaduras provocadas pelos agressores.

Dois aeroportos foram danificados, incluindo o de Katmandu, principal porta de entrada do país. O local foi fechado devido à fumaça dos incêndios. O impacto é enorme, já que o aeroporto recebe turistas que viajam para escalar o Monte Everest.
5. O que acontece agora?
Entre os nomes que despontam como possíveis líderes políticos está Balendra Shah, de 35 anos, ex-rapper e compositor, eleito prefeito de Katmandu em 2022 após campanha que prometia limpar ruas e rios da cidade.
Após a morte de manifestantes durante os protestos de segunda-feira, Shah chamou o então premiê de “terrorista” incapaz de entender “a dor de perder um filho ou filha”.

Na terça-feira, após a renúncia de Oli, ele pediu “calma” aos 784 mil seguidores que tem no Instagram: “Querida Geração Z, a renúncia dos seus opressores na política já aconteceu! Agora, por favor, tenham paciência. Você e nós precisamos ser cautelosos! Agora a sua geração terá que liderar o país! Preparem-se!”
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